O índice de dividendos da B3 (Idiv) terminou janeiro com valorização de quase 6%, aos 7.575 pontos, superando o ganho de 3,4% do Ibovespa. Em meio à expectativa quanto à taxa Selic – mantida em 13,75% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom) nesta quarta-feira (2) – e já de olho na safra de balanços relativos a 2022, os analistas promoveram mudanças importantes nas carteiras recomendadas de dividendos para fevereiro.

As principais apostas permaneceram, mas o rodízio dos outros papéis fez despontar cinco novas companhias entre as mais indicadas pelas corretoras, em relação ao mês passado. Com isso, a lista de destaques reúne dez empresas. A Vale (VALE3) segue na liderança do ranking geral, com seis apontamentos, um a menos frente a janeiro.

Na sequência, três companhias dividem o segundo lugar, todas com quatro recomendações: CPFL Energia (CPFE3), Itaú Unibanco (ITUB4) e Telefônica Brasil (VIVT3). Destaque para esta última, que ganhou uma indicação e agora figura entre as mais lembradas.

No bloco seguinte, surgem seis empresas empatadas com três recomendações. Nessa lista, BB Seguridade (BBSE3) e Engie (EGIE3) já estavam em janeiro, e as novidades ficam por conta de Banco do Brasil (BBAS3), Minerva (BEEF3), Porto Seguro (PSSA3) e Taesa (TAEE11).

Em uma visão panorâmica sobre a Bolsa, o BTG Pactual acredita que o Brasil “está barato e o mundo está ajudando”. O banco espera que o debate econômico local avance para um terreno mais positivo nos próximos meses.

Acredita ainda que melhores perspectivas para a economia global, incluindo a reabertura da China, possam continuar a ter implicações positivas para os países emergentes. “Um maior crescimento chinês deve sustentar os preços de commodities, beneficiando exportadores de commodities como Brasil e Chile.”

A instituição pondera, no entanto, que possíveis cortes nas projeções de lucro das empresas listadas podem sinalizar valuations mais caros. Segundo o BTG, as estimativas estão sendo revisadas para baixo para levar em conta o crescimento econômico marginalmente menor em 2023 (0,8%, de acordo com a pesquisa Focus) e taxas de juros potencialmente altas por mais tempo.

“Nossa equipe de Equity Research agora projeta que os lucros consolidados crescerão 4,8% (reais nominais) em 2023, abaixo dos 7,7% de alguns meses atrás”, diz o banco. “A maior parte da revisão para baixo envolveu empresas basicamente expostas ao mercado doméstico, que agora devem crescer 10,3%, contra 13,6% há alguns meses – nossas equipes dos setores financeiro e varejo recentemente cortaram suas estimativas para algumas empresas que cobrimos.”

Todo início de mês, o InfoMoney traz um levantamento das carteiras de ações recomendadas para quem tem foco em dividendos, apontando os cinco papéis preferidos dos analistas. O número pode ser maior, se houver empate – como ocorreu neste mês. A análise engloba os portfólios divulgados por dez corretoras.

Vale (VALE3)

A mineradora deixou de fazer parte da carteira de dividendos da Genial em fevereiro, mas segue na liderança isolada no ranking geral, com seis apontamentos.

Uma das corretoras que reitera a aposta na companhia é a Ágora, para a qual os preços do minério de ferro devem continuar se fortalecendo neste primeiro semestre, por conta da recuperação na demanda chinesa por aço. Além disso, acredita que a oferta da commodity se mantém sazonalmente fraca.

A instituição projeta o preço médio do minério em US$ 140 a tonelada nesses primeiros seis meses, recuando para US$ 130 ao longo de 2023. Diante disso, estima uma forte geração de caixa para a empresa, ao redor de US$ 10,7 bilhões neste ano.

“Esperamos que a Vale distribua US$ 5,4 bilhões em dividendos (isso porque consideramos apenas os dividendos mínimos para 2023!), equivalendo a um dividend yield em torno de 7%, além do seu programa de recompra em andamento (quase US$ 5,6 bilhões em 2023).”

Telefônica Brasil (VIVT3)

Novidade no bloco principal das mais recomendadas, a companhia totalizou quatro menções. “A Telefônica Brasil é uma empresa que distribui bons proventos e, ainda que a expectativa de pagamento de dividendos seja abaixo de dois dígitos, isso pode fornecer alguma proteção contra quedas”, diz a Ágora.

Os analistas da casa esperam que, nos próximos trimestres, surjam evidências mais fortes de captura de sinergias da aquisição da Oi e tendências positivas quanto à geração de fluxo de caixa.

CPFL Energia (CPFE3)

A elétrica sustentou as quatro indicações recebidas em janeiro e permanece entre os destaques. Em relatório, a Santander Corretora diz que a empresa é uma boa opção para 2023, dado o valuation atraente (taxa interna de retorno real implícita de 12,3%) e o fluxo de caixa estável, com risco limitado.

“Também gostamos do forte dividend yield [retorno com dividendos] esperado (15,4% para os próximos três anos)”, diz a instituição, para qual a CPFL pode vir a fazer distribuições extraordinárias caso o governo decida tributar esses proventos.

Itaú Unibanco (ITUB4)

O banco permanece com quatro recomendações para o mês e fecha a relação principal de destaques. Na opinião do Santander, o ROE (retorno sobre o patrimônio) de 20% do Itaú deve se sustentar neste ano, dado o mix de produtos e as altas taxas de juros.

“Após 2023, a administração também observou que uma normalização das taxas de juros pode ser positiva para os clientes e, portanto, para a lucratividade do Itaú no longo prazo.”

Apesar da visão positiva, os analistas do Santander optaram recentemente por um ajuste no preço-avo estimado para as ações PN do Itaú neste ano, reduzindo de R$ 32 para R$ 31, em função do “cenário macroeconômico mais desafiador”. O cálculo, no entanto, indica um potencial de alta de 24% em relação ao fechamento do papel em 1ª de fevereiro (R$ 24,98).

Banco do Brasil (BBAS3)

Outra instituição financeira entre os papéis mais citados em dividendos é o Banco do Brasil (BB) – que abre a sequência de ações empatadas com três escolhas por parte dos analistas em fevereiro.

Na corretora do Santander, o ativo é considerado top pick no setor de bancos. “Além de possuir um dos maiores dividend yields esperados para 2023 (13,8%) entre a nossa cobertura, o BB deverá manter o bom momento de lucros, caminhando para entregar o topo do guidance de 2022, que projeta um lucro líquido de R$ 31,5 bilhões no acumulado do ano (10,5% acima do guidance anterior).”

Os analistas acreditam ainda que, mesmo em um cenário de piora macroeconômica, o BB estaria em posição privilegiada, por conta da exposição ao agronegócio, setor com forte participação no PIB brasileiro nas últimas décadas.

“Por fim, acreditamos que o risco de interferência política é menor do que o mercado considera, dada a melhoria dos padrões de governança corporativa do banco”, diz o Santander. “Todavia, acreditamos que qualquer impacto negativo na lucratividade do banco devido a uma possível interferência política só seria visto em 2024.”

Minerva (BEEF3)

O frigorífico também figura em três carteiras de dividendos do mês, entre elas a da Órama Investimentos, que considera “ótimo” o momento para o setor.

A corretora ressalta que a demanda internacional por alimentos não para de crescer – sobretudo por carne bovina – e lembra que a China ainda não conseguiu se recuperar dos efeitos da gripe suína ocorrida em 2019. Com isso, o consumidor daquele país elegeu a carne de boi como substituta, puxando os preços para cima.

Além da conjuntura favorável, a corretora avalia que a Minerva tem apresentado resultados excepcionais. “Os donos da companhia sempre operaram de forma conservadora, e a expectativa não é de grandes M&As [fusões e aquisições], mas sim de dividendos gordos nos próximos anos.”

Porto Seguro (PSSA3)

As três recomendações da companhia incluem a estreia na seleção feita pelo BTG para fevereiro. A instituição comenta que, nos últimos trimestres, a sinistralidade do seguro de automóveis está pressionada, pois a menor oferta de veículos elevou os preços dos carros, o que continuou impactando os resultados de 2022.

“No entanto, agora esperamos que seus resultados [da Porto] melhorem significativamente nos próximos trimestres (e especialmente em 2023), uma vez que a repactuação de suas apólices de seguro de automóveis começa a impactar os resultados e melhorar a sinistralidade de forma mais significativa.”

O banco observa ainda que a empresa atravessa um forte momento operacional e tem baixa exposição a riscos políticos e mudanças regulatórias.

Taesa (TAEE11)

Outra representante do setor elétrico nos destaques é a distribuidora Taesa, que ingressou em duas carteiras indicadas para o mês.

“A empresa permanece com sólida execução das novas concessões, além do atrativo dividend yield”, afirma a Guide, que manteve o papel entre suas recomendações. “O baixo risco regulatório da Taesa, que possui contratos longos, com vencimentos partir de 2030, é outro ponto de destaque.”

Historicamente, a empresa reporta geração de caixa “constante e robusta”, com margens bastante elevadas, em torno de 85% a 90% no caso do indicador relacionado ao Ebitda, diz a corretora.

BB Seguridade (BBSE3)

A empresa perdeu uma recomendação frente a janeiro, mas se mantém entre as mais citadas, dada a concentração de papéis com três apontamentos neste mês. O mesmo aconteceu com a Engie.

Em relatório, o BTG diz enxergar uma perspectiva de resultados muito construtiva para a BB Seguridade. O banco espera, por exemplo, que os prêmios subscritos cresçam 28% e que o lucro líquido avance 20%, para R$ 7 bilhões, neste ano frente a 2022.

“A BBSE já tem caixa para potencialmente fazer um payout [fatia do lucro a ser distribuída] de 100% no segundo semestre, e vemos espaço para pagar mais de 80% em 2023 (8% de yield).”

Engie (EGIE3)

A companhia, maior produtora privada de energia elétrica do país, fecha a lista de destaques do mês.

“Continuamos a acreditar que a distribuição de dividendos da Engie deva se manter no patamar de 100% dos lucros em 2023, tendo em vista a situação confortável de caixa da companhia (2 vezes a dívida líquida/Ebitda)”, afirma a XP Investimentos.

A corretora estima ainda um retorno médio com dividendos de 14,3% para os papéis da empresa, neste ano.

*CRÉDITO: INFOMONEY

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