Por Anna K.*

Uma forte comoção nas redes sociais e meios de comunicação tomou o Brasil e está se espalhando esta semana. Marielle Francisco da Silva, de 39 anos, que era vereadora do Rio de Janeiro, foi morta por bandidos na noite desta última quarta-feira (14), em região Central do Rio de Janeiro, com, pelo menos, quatro tiros na cabeça, segundo informação do G1.

Socióloga, feminista, militante dos direitos humanos, era filiada ao PSOL, mestre em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense e foi a quinta vereadora mais votada na disputa eleitoral de 2016. Milhares de manifestações espontâneas de revolta estão emergindo nas redes sociais pela morte de Marielle, ao ponto de motivar a organização de protestos em pelo menos dez capitais brasileiras.

Anderson Pedro Gomes, de 39 anos, tinha 2 filhos. Também foi morto nesta mesma noite, no mesmo carro e no mesmo incidente de Marielle. Era ele quem dirigia o carro para a vereadora, pois fazia um bico substituindo o amigo que era o efetivo motorista, e que estava de licença médica. Anderson, que ia iniciar um curso para mecânico de avião, foi atingido com pelo menos 3 tiros na lateral das costas, segundo matéria do Bom dia Rio.

Nesta mesma fatídica noite do dia 14, o empresário Cláudio Henrique Costa Pinto, de 43 anos, foi morto por bandidos na frente do filho de 5 anos, no Bairro Cachambi, Zona Norte do Rio de Janeiro.

Três eventos de mortes cruéis, chocantes e violentas aconteceram no mesmo dia. Todos os dias, no nosso país, morrem Franciscos e Franciscas, Joãos e Joanas, Antônias e Antônios.

“Estamos imersos nisso que está acontecendo. Estamos nos acostumando. Como dizem, é mais um”, afirmou Ágatha Reis ao G1, a esposa do motorista alvejado. Então, eu questiono, será? Será que somos mais um? Não. Somos um, porque únicos somos, e insubstituíveis. A banalização do direito à vida com que vem sendo mitigado no nosso país, é uma tristeza sem precedentes.

O Brasil é líder mundial em número de mortes violentas, superando a violência da Índia, Síria, Nigéria e Venezuela, segundo dados da Small Arms Survey, de 2016. 70,2 mil óbitos em um ano para a conta do Estado Brasileiro, 12,5% do registro mundial.

Para ser sucinta, algumas reflexões podem ser feitas sobre o conjunto exposto.

O que o establishment tem se preocupado, é em classificar as pessoas por gênero, etnia, religião, idade, condição econômica, atividade, isolando os grupos como minorias, para, diante dos contextos fáticos de violações, justificá-los pela condição da pessoa, e não pelo fato do indivíduo ser uma pessoa. Ou seja, não há no Brasil uma real preocupação em proteger o valor, que no caso, é a vida humana. Não há, de forma preponderante, um sentimento de comunidade, de pertencimento à um seio, à uma pátria, à uma nação.

Caso contrário, todos os dias, a questão da violência ou quaisquer violações chocariam os movimentos e as massas, como faz hoje a onda Marielle do momento. Os preocupados se rebelariam cotidianamente nas redes sociais e, reciprocamente, uns para com os outros, reivindicariam e lutariam contra o estado de coisas inconstitucional em que vivemos.

Ora, a vida, seja dos Franciscos, das Antônias, de Marielle, das Joanas, tem o mesmo valor! E não porque é mulher, homem, negro, índio, branco, pobre, azul, amarelo. Todas as vidas, são vidas valiosas. Revoltar-se por uma vida mas pela outra não, é concordar com a indiferença das pessoas ao redor quando, por um acaso, um ente querido eventualmente venha a sofrer a mesma lesão.

Os brasileiros não podem deixar o seu rumo nas mãos daqueles que fecham os olhos para a criminalidade, que amenizam para os autores das infrações, que tratam os fatos com os olhos das ideologias… A liberdade de uma nação só poderá ser experimentada pelo povo, se este enxergar e se retirar do lugar de refém que o colocaram, para depurar do país os ladrões que roubaram a pátria, para que haja justiça e paz. E isto, só será possível, quando nos compreendermos enquanto membros de uma só comunidade, chamada BRASIL.

* Anna Karenina Vieira é poetisa, jornalista e bacharel em Direito.

Deixe uma resposta