A região cacaueira, polo econômico tradicional da Bahia, construída com o esforço dos coronéis do cacau, dos trabalhadores e suas famílias, outrora definida pelo saudoso sociólogo e professor Salem Rachid Asmar, como “pobre região rica” contribuiu decisivamente para economia baiana, por quase um século. Com o surgimento da vassoura de bruxa e a consequente decadência da lavoura cacaueira, na segunda metade da  década de 80, a produção caiu de 400 mil toneladas/ano de cacau, quando atingiu o pico, para 80 mil toneladas/ano causando um verdadeiro caos para produtores e trabalhadores, trazendo serias consequências econômicas e sociais para todos que aqui habitavam, transformando a região numa pobre região pobre.  A importância econômica, da região, era de tal ordem que o Governador do Estado definia a data de pagamento, do funcionalismo público estadual, de acordo com a previsão da chegado dos navios para embarque de cacau no porto de Ilhéus. Para se ter uma ideia do peso econômico, a região chegou a contribuir com 67% da arrecadação do Estado.

Os recursos gerados pelos produtores e pelo labor dos trabalhadores contribuiu para a Bahia financiar grande parte da infraestrutura viária do Estado, para ajudar na construção da capital Salvador, do centro industrial de aratu, além de financiar os primeiros passos da implantação do polo petroquímico de Camaçari e até mesmo para construir a praça e o altar  onde o papa João Paulo II celebrou missa  nos alagados, quando da sua visita a Bahia, além contribuição decisiva para o financiamento de ações na área de saúde e educação (inclusive profissionalizante), entre tantas outras ações do governo do estado que foram financiadas com recursos oriundos da região cacaueira.

Ao longo do século XX, as contrapartidas dos governos estadual e federal foram muito pequenos em comparação com os bilhões de reais gerados para a economia baiana nessa região. Pode-se afirmar ainda, que ao longo daquele século a região deixou de receber a atenção, dos governos estadual e federal, a altura da sua importância econômica para Bahia e para o Brasil. O descaso com a região  deu origem a iniciativas de criar-se o Estado de Santa Cruz, dividindo o Estado da Bahia, através dos projetos que tramitaram na câmara Feder3al dos deputados, inicialmente do saudoso deputado Henrique Cardoso e em seguida do Deputado Fernando Gomes, ambos rejeitados, na mesma ocasião  da criação do Estado de Tocantins, Mato Grosso do Sul entre outros.

As poucas ações desenvolvidas pelo governo federal e estadual ficaram muito aquém da contribuição da região para Bahia e para o Brasil. A exemplo da CEPLAC Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira, criada em 1957  pelo governo federal,  que desenvolveu as ações  financiadas com 10% da produção do cacau, ou seja  os produtores além de pagar todos impostos ainda tinham que contribuir com 10% de sua produção, talvez no brasil tenha sido a única lavoura que tenha auto financiado a estrutura para o seu desenvolvimento. Se não fosse a Ceplac, que deixou um grande legado para a região, em diversas áreas, como da infraestrutura viária, inclusive com forte participação na construção do porto do malhado, na educação nos seus diversos níveis, inclusive na criação da Universidade Santa Cruz, na infraestrutura da saúde, entre tantas outras. Com certeza se não tivéssemos a CEPLAC a região estaria muito pior. Também para não ser injustos temos que lembrar de iniciativas como a do ICB, Instituto de Cacau da Bahia que teve atuação na área da comercialização do cacau e nas ações de manutenção de infraestrutura viária na região. Com a tentativa da descentralização econômica encontramos a criação do distrito industrial e ações de saneamento pela embasa em ilhéus. O passar do tempo nos mostra que a maioria dos governadores da Bahia, com raras exceções, levaram os recursos da região e poucos tiveram a iniciativa de devolver algumas migalhas para essa região que teve contribuição significativa na história da economia da Bahia e do Brasil. Hoje felizmente presenciamos alguns investimentos importantes do governo do estado, leia-se do governador Rui Costa. Entre eles destacamos o hospital Costa do Cacau em Ilhéus, barragem de Itapé, para abastecer de água a cidade de Itabuna e outros municípios, uma importante e bela ponte, com função regional, facilitando a ligação da BA 001 (sul/norte) ligando zona sul ao centro da cidade em Ilhéus, a ser liberada para o trafego sem inauguração devido a pandemia do corona vírus, e outros investimentos para região e municípios do sul da Bahia.  Outrora, não podemos esquecer, Ilhéus também recebeu do governo Federal e Estadual, o Hospital Regional, governador Luiz Viana filho e em 1966 a ponte Ilhéus pontal, governador Lomanto Junior. Temos que agradecer e aplaudir a iniciativa desses benfeitores, por colocar na agenda dos programas do governo do Estado ações que contemplem o resgate da dívida com a região cacaueira com esses investimentos e outros que estão sendo anunciados, como a FIOL-Ferrovia Oeste Leste, porto sul, a duplicação da estrada Ilhéus Itabuna, entre outros previstos. Esses investimentos embora sejam alguns milhões de reais, pela importância histórica da economia da região, poderiam ser entendidos como “uma devolução em migalhas”, dos bilhões de reais que a Bahia e o Brasil receberam, da “pobre região rica”, ao longo de quase um século.

Para chegar-se a uma compensação, que poderá vir a ser compatível, sugere-se a inciativa de criar a região metropolitana do sul da Bahia e também a elaboração um plano de ação voltado para exploração dos potenciais da região nos diversos setores, criando-se um novo ciclo de desenvolvimento. Esse planejamento deve contemplar o potencial da região nos diversos setores como: turismo; serviços; minério (leia-se petróleo e gás); indústria e agroindústria. Nesse último, agroindústria, considerando-se as terras testadas e aprovadas a mais de um século como próprias para cultura da lavoura cacaueira, deverá contemplar o acesso à terra, recursos para financiamento, assistência técnica na produção do cacau e do chocolate, passando pela preservação ambiental, apoio na comercialização, inclusive com abertura de novos mercados, e um forte trabalho de conscientização, voltado para implementar uma nova mentalidade envolvendo os produtores no sentido que fiquem comprometidos com esse novo ciclo do cacau/chocolate. Seria uma mesma cultura com emprego de tecnologia intensiva e verticalização da produção para agregar valores. Dessa forma teríamos a geração de emprego e renda, e poderíamos vislumbrar a região desenvolvida com sustentabilidade que, por certo, voltaria a sua posição de destaque na economia baiana de onde jamais deveria ter saído, transformando-se numa “RICA REGIÃO RICA”  

Por fim temos que  aplaudir e render nossas homenagens ao governador Rui Costa e demais lideranças políticas por colocarem  Ilhéus e a  região cacaueira  nos programas de governo do estado ao tempo em que esperamos que essas ações sejam permanentes e ampliadas objetivando que o POLO DO CACAU CHOCOLATE seja inserido em programas permanentes do governo do Estado e Federal de forma que a região venha consolidar esse  polo,  a exemplo do polo  da uva no Rio Grande do Sul entre tantos outros existentes nesse grande Brasil.

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